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Postagens

A ação do tempo

     Qual o tempo para sofrer? Mas não necessariamente sofrer no sentido maior da palavra, e sim permitir-se sentir. É sobre viver tudo de maneira real, sobre ser real em um mundo de tempo que nos antecipa a sermos a junção de protótipos essencialmente bons e dispostos. Assim, as dores que existem em nós e não foram devidamente vivenciadas ou aceitas pelas instâncias mais lúcidas dos nossos pensamentos são as responsáveis pelo mártir gerado pelo peso de estar vivo e triste em um mundo que só existe pela essência mais genuína e natural: o tempo.      O tempo, que agora é cronológico, nos separa, mas também nos aproxima das dimensões do irreal. A falta de tempo nos impossibilita sofrer, mas também adoece e gera sofrimento lúcido e atordoante. En louquecemos e deprimimos justamente ao sabermos que aquilo que estava errado em nós e era ignorado pela falta de confronto, agora nos atormenta diretamente e não nos dá chances de fuga. Nos obriga uma constante r...
Postagens recentes

Não me permito, não me aceito na vocação da escrita.

     Se somos o que somos, é pela dádiva e mártir da palavra. O que se pode pensar de um processo solitário? Que se faz só!      Mas, aqui, nesse contexto, palavras se fazem companheiras de uma decomposição atômica.       Quando escrevemos, materializamos o tempo, respingamos a matéria de consciência no mundo e somos invadidos pela crença tola de que palavras são importantes. Palavras são feitiços e nos temos presos ao seu pior lado, palavras são como facas amoladas, prontas para atravessarem os milímetros da ectoderme humana que se faz podre quando tomada pelo poder, pois este, apodrece o corpo.  Dê ao escritor a legitimação do poder de suas palavras que verás, por outras lentes, a podridão do grito de dor que carrega suas sílabas, da covardia que o faz apagar e reescrever o mísero trecho que não o agrada. Quando se criam narrativas que representam dores, cria-se, sobretudo, a representação dos egoísmos que guiam a seletividade dos...

Cartas: "Clarice Lispector é uma faca de dois gumes"

     Clarice Lispector, antes de qualquer coisa, criava narrativas que se perdiam dentro de outras. Clarice construiu matrizes. A escritora valorizou os processos de sua escrita para o incômodo: ler sua obra, é como ser apunhalado por uma faca de dois gumes.       Sendo assim, uma gota de oceano está presente em todos nós. Quantas vezes entramos no mar e, no contato junto à água, somos invadidos pelo líquido salgado que pode entrar da mínima à máxima forma sob nossa pele? Posso sentir a água salgada correndo pelas minhas veias e se multiplicando como o mar em mim. Se sou o mar, eu posso se tudo o que quero e você também.      Quantos dias podem ser ensolarados, mas frios como um típico momento de alto inverno?      Eu ainda estou pensando em defeitos que me sustenta. Quantos deles tive que abandonar e isso me desmoronou por completo?       Me sinto desmoronado. Não quero ouvir palavras de motivação, poi...

ANÁLISE: a música "Eduardo e Mônica" do Legião Urbana sob a ótica da metapsicologia de Melanie Klein

Melanie Klein, 1952 “Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar             Ficou deitado e viu que horas eram” Dentro da metapsicologia de Melanie Klein temos a posição depressiva, que ocorre por volta dos quatro meses e sua superação se dá ao longo do primeiro ano de vida. No entanto, ainda pode ser encontrada durante a infância e reativada no adulto, particularmente nas situações de luto e estados depressivos. A partir do primeiro excerto é possível perceber  uma condição de ansiedade depressiva, não como patologia, mas como condição para pensamento. Diferentemente da mania, em que há uma busca exacerbada por ‘fazer coisas’, na lógica depressiva há um desaceleramento, seguido de um relaxamento e isso permite um movimento de introspecção para começar a lidar com questões internas. Eduardo não acordou e se preocupou prontamente em produzir, mas permaneceu deitado como alguém que, internamente, faz elabor...

Introduzindo à playlist "mandacaru"

Se para Jõao Guimarães Rosa: "O sertão é dentro da gente" - o que ele é de fato dentro de mim? Bando de Lampião A resposta em músicas que estão em constante mudança na playlist: Ouça a playlist completa na Deezer Brasil:    https://www.deezer.com/playlist/7491289764?utm_source=deezer&utm_content=playlist-7491289764&utm_term=3354990284_1586952282&utm_medium=web 01. Meu Divino São José / O Sertão É uma Espera Enorme · Maria Bethânia (2006) 02. Toada De Gado / A Morte Do Vaqueiro · Quinteto Violado (1976) 03. Terra Plana (1995 Digital Remaster) · Geraldo Vandre (1968) 04. Manto Crepuscular · Zé Viola , Dedé Laurentino , Zé Viola & Dedé Laurentino (2014) 05. O Xote Das Meninas / Asa Branca / Hino A São José (Ao Vivo) · Marisa Monte (1996) 06. Oração de São Francisco de Assis · Fagner (1989) 07. Anunciação · Alceu Valença (1983) 08. A Morte do Vaqueiro · Luiz Gonzaga (1964) 09. Juazeiro · Luiz Gonzaga (1981) 10...