Qual o tempo para sofrer? Mas não necessariamente sofrer no sentido maior da palavra, e sim permitir-se sentir. É sobre viver tudo de maneira real, sobre ser real em um mundo de tempo que nos antecipa a sermos a junção de protótipos essencialmente bons e dispostos. Assim, as dores que existem em nós e não foram devidamente vivenciadas ou aceitas pelas instâncias mais lúcidas dos nossos pensamentos são as responsáveis pelo mártir gerado pelo peso de estar vivo e triste em um mundo que só existe pela essência mais genuína e natural: o tempo. O tempo, que agora é cronológico, nos separa, mas também nos aproxima das dimensões do irreal. A falta de tempo nos impossibilita sofrer, mas também adoece e gera sofrimento lúcido e atordoante. En louquecemos e deprimimos justamente ao sabermos que aquilo que estava errado em nós e era ignorado pela falta de confronto, agora nos atormenta diretamente e não nos dá chances de fuga. Nos obriga uma constante r...
Se somos o que somos, é pela dádiva e mártir da palavra. O que se pode pensar de um processo solitário? Que se faz só! Mas, aqui, nesse contexto, palavras se fazem companheiras de uma decomposição atômica. Quando escrevemos, materializamos o tempo, respingamos a matéria de consciência no mundo e somos invadidos pela crença tola de que palavras são importantes. Palavras são feitiços e nos temos presos ao seu pior lado, palavras são como facas amoladas, prontas para atravessarem os milímetros da ectoderme humana que se faz podre quando tomada pelo poder, pois este, apodrece o corpo. Dê ao escritor a legitimação do poder de suas palavras que verás, por outras lentes, a podridão do grito de dor que carrega suas sílabas, da covardia que o faz apagar e reescrever o mísero trecho que não o agrada. Quando se criam narrativas que representam dores, cria-se, sobretudo, a representação dos egoísmos que guiam a seletividade dos...